quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Mauro Almeida, notário e genealogista

No dia 29 de dezembro de 1915 nasceu, em Barbacena, o memorialista Mauro de Almeida Pereira, falecido em Leopoldina aos 21 de junho de 2001. É patrono da Cadeira nº 10 da Academia Leopoldinense de Letras e Artes. Leia mais...

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Boas Festas! Boas Leituras!

A Academia Leopoldinense de Letras e Artes deseja a todos um Bom Natal
e que em 2017 venham participar do nosso Círculo de Leitura.
Nossa próxima reunião será no dia 7 de fevereiro,
quando conversaremos sobre Grande Sertão Veredas, de João Guimarães Rosa.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

2º lugar em interpretação na final do XXV Concurso de Poesias Augusto dos Anjos

Apresentação no dia 11 de novembro de 2016, no Museu Espaço dos Anjos, em Leopoldina, MG

2º lugar – Intérprete

PATÉTICO, SUBLIME POETA

Autora: Karla Celene Campos (Montes Claros/MG)
Pseudônimo: Ângela
Intérprete: Willens Douglas

Lâmina. Espinho. Pedra.
Quem pode definir um homem?
Qual é a definição de um poeta?

Anulação. Aniquilamento. Decomposição.
Quanto tempo dura um homem?
Qual a duração de um poeta?

Pau D' Arco. Rio de Janeiro. Leopoldina.
Quem pode limitar espaços,
Se a obra rompe cenários,
Se a obra jamais termina?

Simbolista. Expressionista.
Pré-modernista. Parnasiano.
Em que período se insere um artista
Nitidamente contemporâneo?

Ceticismo. Abismos. Ascos.
Quem não vivencia
A antítese da utopia
Nesta terra de homens putrefatos?

Atualíssima é a angústia, sublime Poeta,
Na podridão dos dias que são os nossos,
Na falta de sentido de todos os dias,
Na distopia pós-moderna.

Sua agressão é nossa arma
Poética,
Patético Poeta,
Patrono de outros esdrúxulos que vieram
E que insanos escarram nas repugnâncias
E se aliviam
No delírio febril da poesia...

Vês? Ninguém considerou teu enterro
O fim da última quimera
Mais do que elementos químicos brotaram
Do teu não definitivo sono.
Permaneces.

A lâmina que fere é a mesma que molda.
A pedra que apedreja é a mesma que constrói.
O espinho que espeta é o que nos faz espertos.

Vês? Ninguém considerou teu enterro
O fim da última quimera.
Poesia engendra fruto,
Augusto.

Patético.
Sublime.
Esdrúxulo.
Poeta.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Exílio, 5º lugar no 25º Concurso de Poesias Augusto dos Anjos

Apresentação no dia 11 de novembro de 2016, no Museu Espaço dos Anjos, em Leopoldina, MG.

5º lugar – Poesia

EXÍLIO

Autor: Antônio Roberto de Carvalho (São Paulo/SP)
Pseudônimo: Faroleiro
Intérprete: Amanda Ferraz

Meus olhos são faróis sempre voltados
para o horizonte, além daqueles dunas
onde sombras de seres exilados
                                   navegam em escunas.

Incautos, seguem sobre a rebeldia
do mar que os arremessa a canto algum,
rompendo os laços do que foi um dia
                        o lar de cada um.

Ancoradouros de esperanças mortas,
dilaceradas pela intolerância
que abre do inferno as insondáveis portas
                        com as chaves da ganância.

Subjugados pelos dissabores,
vagam a esmo, a espreitar o entorno,
velando o fel das incontidas dores
                        de não haver retorno.

A mão que mata não semeia flores,
nem se comove com a desgraça alheia;
promove guerras, patrocina horrores...
                        Com que se banqueteia.

Houve um tempo de risos e certezas;
de pessoas vivendo em liberdade,
mas os pilares dessas fortalezas
                        não eram de verdade.

Resta o consolo de saber que a vida
não é somente um manancial de dor;
que há de vencer a fúria genocida
                        o fraternal amor! 

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

3ª colocada no XXV Concurso de Poesias Augusto dos Anjos

Apresentação do dia 11 de novembro de 2016, no Museu Espaço dos Anjos, em Leopoldina, MG

3º lugar – Poesia

AUGUSTO CADÁVER

Autor: Gilberto Cardoso dos Santos (Santa Cruz/RN)
Pseudônimo: Amor Tecido
Intérprete: Fabrício Manca

Augusto dos Anjos, poeta da morte,
Tão jovem no leito sem vida jazia
Morreu atacado por pneumonia
Entregue ao destino que temos por sorte.
Um mal invisível mostrou-se mais forte
Impondo ao corpo feroz morbidez
Tirou-lhe do ser qualquer altivez
Trazendo à mente cruel prostração
Começa a maldita decomposição
Que prova a verdade dos versos que fez.

De onde vieram os versos cortantes
De góticas vestes sonoras vestidos,
Bonitos e tristes, amados, temidos,
Quais blocos de gelo no mar flutuantes?
Estrofes perfeitas e aterrorizantes
Nasceram do corpo que agora é velado
O golpe maldito enfim foi-lhe dado
A massa encefálica perdeu a batalha
Só resta o lamento e pôr a mortalha
Naquele que em vida se viu sepultado.

Se ele pudesse agora se ver
Cadáver em princípio de putrefação
O que comporia perante a visão
Do fim absurdo de seu próprio ser?
Talvez que viesse a se exceder
E em póstumos versos melhor descrevesse
O drama que expôs; bem mais entendesse
A dura verdade que poetizou
E aos favos de fel que armazenou
Com lúgubre gozo quem sabe sorvesse.

Com olhar de abutre em vida se via
À espera do instante do último alento
A perenidade de cada elemento
O punha em constante e íntima agonia
O sol do otimismo não o atraía
No vale da sombra da morte ficou
O que haveria de ser afetou
A filosofia do ser transitório
Vivia à espera do próprio velório
Com apática certeza seu afim aguardou.

Em breve os vermes na exuberância
Da carne sem vida, augusto banquete,
Tal como crianças lambendo sorvete
Irão deleitar-se sem repugnância
O ecossistema com certa elegância
O magro cadáver irá decompor
Quem sabe na pétala de fúnebre flor
No vivo tapete que venha a nascer
Augusto inspire alguém a dizer
Que o mundo é estranho, mas encantador.  

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Cicatriz, poesia finalista no XXV Concurso de Poesias Augusto dos Anjos

Apresentação do dia 11 de novembro de 2016, no Museu Espaço dos Anjos, em Leopoldina, MG

CICATRIZ

Autor: Matusalém Dias de Moura (Vitória/ES)
Pseudônimo: João Pureza
Intérprete: Josué Oliveira

Foi puro e foi bonito o nosso amor;
fez-me sonhar, tomado de alegria,
mas, de repente, entrou em agonia
e, logo, perdeu todo o seu calor,

deixando minha vida sem sabor
e sem aquela ingênua fantasia
que, agora, na malvada nostalgia,
vem-me, sorrindo, cheia de fulgor.

Ao relembrar aquele amor vivido
nos dias do passado mais querido,
Sinto fincar-me o espinho da saudade

do tempo em que, confesso, fui feliz
e que deixou em mim a cicatriz
desse amor que foi todo intensidade. 

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Clandestino, poesia finalista no XXV Concurso de Poesias Augusto dos Anjos

Apresentação no Museu Espaço dos Anjos, em Leopoldina, MG, dia 11 de novembro de 2016

CLANDESTINO

Autora: Zenilde Rodrigues Soares (Belém/PA)
Pseudônimo: Icamiaba
Intérprete: Amanda Ferraz

Muito antes da tua chegada
Tu já estás aqui comigo
Porque sei de tuas vindas
Ainda que calada
Seja a tua boca.

Sei do teu estro desgovernado
Amarrado
Nas linhas das minhas mãos

Teu corpo suado sobre o meu coração.

Amor de era e de hora
Amor de agora
Da ternura fugaz e itinerante

Retirante das candentes madrugadas.

Tua fome me consome
Com a volúpia indomada dos navegantes
Seca a fonte do meu cio
Represado em mananciais de solidões.

Depois abandonas a tua pele
No remanso sonolento da luxúria
E partes silencioso
Enquanto o prazer não cessa de doer
Em mim.

Tu foges para paisagens de esquecimento
Deixando apenas as marcas das tuas pegadas

Gravadas em silêncios fatiados.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Colheita, poesia finalista no XXV Concurso de Poesias Augusto dos Anjos


Apresentação realizada no dia 11 de novembro de 2016, no Museu Espaço dos Anjos, em Leopoldina, MG

COLHEITA

Autora: Helenise de Mello Bisaggio (Juiz de Fora/MG)
Pseudônimo: Lustral
Intérprete: a autora

Debaixo dos galhos retorcidos.
Difícil parturição!
Mãe despeja germe humano.
Na terra tórrida do sertão.

“- Pai, manda chuva!”

Todo ano era assim:
- A seca, a desgraça, o aborto...
“- Virgem Mãe, manda chuva!”
“- Vingou! Dessa vez vingou, em um sequinho corpo!”

“Kara Wã! Kara Wã, esse nome vai chamar.”
Vai precisar de resistência.
Vai ter muito o que rezar.
É o terço na mão, joelho no chão, penitência...

Cresce Kara Wã naquele Torrão natal.
Semeando grãos nas areias do torpor.
Regando dia-a-dia com lágrimas do coração.
Colhendo depravação, pungência, dor.

Na mesmice de sangrar todo mês.
Sem nenhuma ararinha a fazer ninho em sua cabeça.
E no meio daquela escassez, o destino...
O destino empurrava-lhe o mesmo enredo da mãe, até que o
                                               mesmo aconteça.

“-Pai do Céu me socorre!”

O grito de gozo escoava.
Escarranchada debaixo da umburana.
Ali, a um chegado parente se entregava.
Sem parecença. Em condição subumana.

Da pele vermelha como folhas no caroá.
Frita de sol, ferida pelos espinhos em tão tenra idade.
Com a mesma saga da mãe.
Enterra na terra seca, os frutos da mocidade.

Útero, quase sempre, é colheita certeira!
Naquele lugar, única terra que semente medrava.
Kara Wã! Fertilidade no infortúnio.

A colheita de muita mulher brasileira.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Mar Imaginário, finalista do XXV Concurso de Poesias Augusto dos Anjos


MAR IMAGINÁRIO

Autor: Sérgio Bernardo (Nova Friburgo/RJ)
Pseudônimo: Daniel Ladeira
Intérprete: o autor

Praia dos pensamentos náufragos
espalhados em um oceano sem fim,
a palavra salva o que vejo.

Toda imagem de colho
tem reflexo no mar que penso,
uma ilha distante, um navio, um mastro
contra o vento e a tempestade.

A palavra salvadora de memórias
ancoradas em cais fictícios,
na captura de sons e de silêncios
tentada sobre as águas dos meus olhos,
enquanto sol quer cegá-los,
afogando neles o que na paisagem
era espanto e descoberta.

A cada mudez
estou sem ar mesmo na superfície
quando as ondas sob mim se movem.
Alcançada a palavra,
tocando-lhe as areias cobertas de conchas,
é que outra vez respiro
e limpo o sal de toda lágrima entre o mergulho
e a emersão para a claridade.

A ideia flutua: uma alga
na espuma esverdeada. O sonho acontece
entre as árvores da orla, dentro do farol,
na pedra quase submersa.
E, inteira, a praia se acende
como uma estrela que ressuscita.
E eu viro pescador e peixe, e me transformo em rede

arremessada pelo tempo.
-o-o-o-o-o-
A final do Concurso foi realizada no dia 11 de novembro de 2016 no Museu Espaço dos Anjos, em Leopoldina, MG

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Minhas Asas, finalista do XXV Concurso de Poesias Augusto dos Anjos


MINHAS ASAS

Autor: Allisson Francisco de Matos (Curitiba/PR)
Pseudônimo: Xuxu de Xocolate
Intérprete: Kiko Loçasso

A ti confio o sonho que me chama
Mais alto, nessa vida de verdades,
Que pulsa entre singelas crueldades,
E assim, de tão atroz, a mente inflama.

Se sempre a morte à mente se proclama
No leito de uma algoz felicidade,
Eu salto e voo nessa liberdade
De vida que meu sonho me declama.

Teus olhos, meu oráculo sagrado,
São brilhos de um vulcão acalentado
No céu, em toda a sua imensidão...

E ao voo do meu anjo, alto, risonho,
Eu deito no seu colo e durmo e sonho:

As asas não me cabem no caixão!

Apresentação realizada no dia 11 de novembro de 2016, no Museu Espaço dos Anjos, Leopoldina, MG

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Sarau Literário dia 10 de dezembro

Convidamos para a nossa última atividade pública do ano de 2016, no próximo sábado, das 10 às 12 horas. Venha participar conosco!

Poesia vencedora do XXV Concurso de Poesias Augusto dos Anjos


O ASSOALHO DO VELHO CASARÃO

Autor: Matusalém Dias de Moura (Vitória/ES)
Pseudônimo: Antônio Inconformado
Intérprete: Josué Oliveira

As tábuas largas do assoalho do velho casarão
que meu bisavô construiu,
meu avô herdou
e hoje são ruínas que meu pai não quis,
guardam, silenciosas,
os passos lentos de meu avô paterno
a arrastar cansados chinelos pela casa afora,
já tarde da noite,
à procura da quartinha d’àgua
para matar a sede que o atacava e aplacar a tosse pigarrenta
que, havia anos, o acompanhava.

Aquelas velhas tábuas de madeira de lei
guardam ruídos de vassouras varrendo restos de terra e ciscos,
sons de botinas pisando, compassadamente,
uma vida inteira de fazendeiro;
guardam marcas de pés descalços
a se arrastarem, em valsa, no último baile de casamento.

Naquelas tábuas, estão guardadas as histórias
de vida e morte de meus antepassados,
lágrimas caídas e dores que não me foram contadas.
Guardam também os sinais dos joelhos de minha vó em tardes
                                               de ladainhas
e fé.


Ah!... Quantos silêncios guardam aquelas tábuas!...

Leopoldina, MG, 11 de novembro de 2016

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

O Coração, finalista no XXV Concurso de Poesias Augusto dos Anjos


O CORAÇÃO

Autor: Paulo Cezar Tórtora (Rio de Janeiro/RJ)
Pseudônimo: Ana Carter
Intérprete: Altair Xavier

O coração é um frágil barco à vela
Quando no mar do amor, em aventura
Adentra, tal fosse uma caravela
Vencendo o oceano com desenvoltura.

Entretanto, há que se ter cautela
Pois o alto mar, com sua envergadura,
Oculta a fúria e o fragor da procela
No seio austero de sua noite escura.

Fazer-se ao largo ignorando os sinais
Da treva horrenda sobre a onda bravia
É uma quimera arriscada demais.

Ao fim da ilusão, sem norte e euforia,
Talvez não se possa voltar jamais

Ao cais feliz que foi deixado um dia...

domingo, 4 de dezembro de 2016

Opsígono, poesia finalista no XXV Concurso Nacional de Poesias Augusto dos Anjos


OPSÍGONO

Autor: André Telucazu Kondo (Jundiaí/SP)
Pseudônimo: Jeremias Sanlape
Intérprete: Luciano Rodrigues

I
Meus opsígonos dentes
só nasceram
para o incômodo ato de preencher
vazios
sorriso tardio – que ninguém vê

Um galho sobre o muro foge pela calçada
mãos de crianças em aurora
com pequenos molares ávidos
trituram as amoras
brutalmente
elas ainda não sabem
que as amoras foram feitas
pra se dissolverem gentilmente, sem pressa?

O céu-da-boca
testemunha as amoras
mas nunca saberá
o que só a língua sente
no chão

II
Por que o olhar dela revelado
na moldura dos anos
ainda busca o meu olhar?
não são cegas as imagens
pregadas nas paredes
como cristos alheios?

Não é silêncio
a boca em eterno riso
de uma foto matrimonial
em que o sim disparado
atinge como um nunca mais o coração?
A maquiagem é a poeira
que esmaece o vítreo rosto
quando a cor partiu?

Da janela, as amoras
desafiam o desbotado dos dias
ninguém se importa

III
Reluto em exumar as lembranças
daquele túmulo em forma de arca
o baú dela quando aberto
tem forma de boca
que não sorri
apenas devora os dias
por isso me afasto
para não ser devorado
nem o espanador o toca
a dor não pode ser espanada
as penas supõem leveza
e não há mais voos
guardados

Toda a consorte herança
inventariada
como se tudo o que vivemos juntos
pudesse ser catalogado
em trastes
eis aqui quinze mil e seiscentos pores do sol
cinquenta e três dúzias de rosas brancas
trinta e sete viagens ao mar
trezentos e um jantares no pequeno restaurante da esquina
umas tantas mil amoras colhidas
e nenhum filho

Mais do que as coisas de dentro
do velho baú
o pó sobre o tampo
tem mais memória...
e guarda o sorriso

que jamais sorri.