segunda-feira, 17 de abril de 2017

Sonhar, acreditar e construir possibilidades

Relato de Experiência 
pela acadêmica Ana Cristina Miranda Fajardo
 "Educar para além dos muros da escola". Esse sempre foi o meu propósito como educadora. Acredito numa educação que ultrapasse o ambiente escolar. Partindo desse princípio, a E E Justiniano Fonseca [distrito de Tebas, Leopoldina, MG] inscreveu-se em todas as edições da OLP - Olimpíada de Língua Portuguesa: Escrevendo o Futuro. Nas três últimas, vibramos com a classificação de nossos alunos na etapa municipal, respectivamente, memória literária, poema e agora, poema e crônica.

Sonhos são sonhos! Cada um tem os seus... Sempre sonhei – e venho trabalhando incansavelmente para isso - em ver um aluno classificado para a etapa regional. Vivenciar a participação nas oficinas, aprofundar conhecimentos, dividir experiências com educadores de todo o Brasil, enfim, respirar diversidade. É chegado o momento da concretização desse sonho. Não cabem no peito a felicidade e a ansiedade.
Apesar de a OLP ser bienal, incluo-a em meu planejamento anual. Motivo a participação dos alunos, usando como estratégia a apresentação dos textos de nossos alunos vencedores nas edições anteriores.
Segundo Fernando Sabino, "crônica é tudo o que o autor chama de crônica." Como definir esse gênero então? Como ensiná-lo como um gênero único? Na E E Justiniano Fonseca, o trabalho com a crônica inicia-se no sétimo ano. Nessa etapa escolar, é trabalhada a crônica narrativa. Provavelmente, por esse motivo, os alunos costumam confundi-la com conto. No nono ano, logo no início do ano letivo, novamente a crônica é trabalhada, não mais somente no viés literário. Esse momento é usado como marco oficial de nossa participação nas oficinas. Os alunos leem, debatem, produzem vários textos que são analisados e também discutidos em grupo.
Aproveito a sequência didática oferecida no caderno do professor, mas não a sigo à risca, uma vez que procuro adaptá-la à realidade dos meus alunos, oferecendo condições para que sejam protagonistas em seu processo de aprendizagem. Dessa forma, na preparação para a produção, este ano, segui os passos descritos a seguir.
Nosso primeiro momento foi no laboratório de informática. Lá, apresentei a eles o Portal da Olimpíada de Língua Portuguesa e todo o material sobre o gênero crônica. Em outra oportunidade, voltamos ao laboratório para a leitura das crônicas vencedoras nas edições anteriores. Essa aproximação com textos reais, de vencedores de outras edições, tranquilizou-os e motivou-os. Isso pôde ser percebido pelos comentários feitos durante a leitura e discussões em grupo.
Outra oficina realizada foi a de leitura da coletânea, seguida de considerações por parte dos alunos. Instiguei-os a dizer qual mais agradou, por qual motivo e qual a relação destas crônicas com as que foram lidas anteriormente.
O passo seguinte foi relacionado à temática proposta. Nesse momento, entrou o olhar fotográfico. Pedi que fechassem os olhos e mentalizassem o que motivaria uma crônica relacionada ao lugar em que eles vivem e conhecem muito bem. Esse olhar profundo e reflexivo foi possível, pois os alunos vivem em um pequeno distrito, onde os detalhes já se encontram na memória. Ainda nessa dinâmica, cada um foi expondo seu olhar. Inclui-me na dinâmica, compartilhando o meu olhar, provocando reflexões, favorecendo o debate de ideias, a avaliação, os aprendizados mútuos e a beleza dos pequenos e sutis detalhes que compõem um cenário coletivo, a partir de cada olhar individual. Nessa “colcha de olhares”, a construção de crônicas foi fecundada.
Enfim, foi chegado o momento da primeira produção. Em ambiente propício, usando de duas horas/aulas, nós começamos a escrever. Digo nós porque, mais uma vez, inseri-me no processo. Também produzi uma crônica, retratando o meu olhar sobre determinada pessoa que vejo, todos os dias, ao chegar a Tebas. Essa pessoa sempre me instigou, mas nunca perguntara sobre ela. Só perguntei quando compartilhávamos nossos olhares. " Há anos trabalho no mesmo local. Há anos observo um senhor. Ele sempre traz nas mãos um galho de bambu, o qual vai desfolhando, folha a folha, lentamente... Quando me vê passar, faz um 'tinindo' e prossegue no seu ofício. E eu? Eu prossigo para o meu."
Após a primeira escrita, todos os alunos apresentaram-me seus textos. Orientei cada um, tanto oralmente quanto por escrito, discutindo as entrelinhas do texto e sugerindo mudanças e adaptações.
Em outro momento, foi feita a reescrita. Ao final, cada aluno leu seu texto para a turma, que mais uma vez foi protagonista, expondo sua opinião e fazendo intervenções. Outra reescrita foi realizada.
Como as TIC - Tecnologias da Informação e Comunicação estão, cada vez mais, presentes no processo educativo, cada aluno digitou seu próprio texto e enviou-o a mim, seja por e-mail, messenger ou WhatsApp. Fiz uma última correção, encaminhei a eles e, por fim, à comissão julgadora escolar, que teve uma tarefa árdua, com certeza, dada à qualidade das crônicas apresentadas.
Quando chegaram dois e-mails, em 24-08, com os dizeres "Parabéns! Um texto produzido em sua escola foi selecionado!", foi alegria em dose dupla. Pela primeira vez, dois textos selecionados. Ficamos extasiados e ansiosos, aguardando a próxima etapa. Em 10-10, a concretização do sonho. Novamente um e-mail com os mesmos dizeres, mas agora com a classificação para a etapa regional. Sensação indescritível!
Como a E E Justiniano Fonseca localiza-se em um pequeno distrito da cidade de Leopoldina, há apenas treze alunos, na faixa etária de 14 a 15 anos, cursando o nono ano. Com certeza, esse fato propiciou a participação da totalidade dos alunos. Segundo o aluno vencedor, "O momento em que escrevemos as crônicas foi maravilhoso, porque, diferente de qualquer outra olimpíada, não nos gerou nenhuma preocupação nem aquele sentimento estranho de ansiedade. Foi tudo na maior calmaria..."
Essa conquista inédita, com certeza, motivou todos. Daqui a dois anos, novos e mais profundos olhares surgirão sobre o local em que vivemos. Mas, daqui para frente, nossos olhares serão ainda mais perspicazes, porém, não menos sonhadores.

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