segunda-feira, 10 de abril de 2017

Noite da Saudade na Academia Mineira de Letras



Sensibilizado por tudo o que se diz de belo, de bom e de verdadeiro, a respeito de quem motiva nossa presença aqui e agora, amparo-me no "Esto brevis et placebis" de Antônio Vieira e, simples e breve, reverencio a sacralidade deste magnífico recinto, depositário de tesouro precioso produzido e preservado por mentes brilhantes e operosas dos membros da Academia Mineira de Letras, onde, por mais de meio século, enquanto do lado de fora, movidas pelo vento da vaidade e da ambição, as pessoas falavam alto de coisas baixas, cá dentro, repito, por mais de meio século, Oiliam José falava baixo das coisas altas.
E, se é verdade que brilharão na eternidade, como as estrelas no firmamento, aqueles que ensinarem o caminho da verdade e da justiça, Oiliam José tem, hoje, assegurado, um espaço privilegiado de luz e de paz, porque verdade e justiça ele ensinou pela palavra e pela conduta. Para Oiliam José, o ato de assimilação de verdade e de justiça tornou-se um processo tão natural no seu cotidiano quanto os sentidos corporais de apreensão e percepção. Ele próprio, em "palavras iniciais" de sua obra "O Negro na Economia Mineira" enfatiza a supremacia da verdade ao afirmar que o Historiador e o Sociólogo vivem para a verdade. A verdade compõe a natureza de seu trabalho. Não é a verdade que pertence ao Historiador. É o Historiador que pertence à verdade.
Oiliam José, o advogado, professor, acadêmico, escritor polígrafo, cidadão íntegro e chefe de família dedicado, paciente e sábio, tinha sólidas convicções religiosas e era um católico de comunhão diária. E oportuno se faz lembrar aqui a afirmativa de Lacordère: "O homem manifesta sua real grandeza quando ele se põe de joelhos perante Deus". E Oiliam devia ter os joelhos bastante calejados. E o cientista Pasteur afirmara, certa feita, que "a pouca ciência afasta de Deus. A muita ciência aproxima de Deus". E Oiliam, sábio que era, sempre se manteve perto de Deus.
Para muitos, "sicut umbra transit vita". Para Oiliam, não. Muitas vidas passam como a sombra sem deixar sinais de sua existência. Com Oiliam não é assim. Seu legado de cultura, simplicidade, integridade e respeito às diversidades humanas deixa-o presente, de modo exemplar e edificante, na mente de quantos o conhecemos.
Oiliam, na casa de Deus, é padrinho de meu filho. Na casa do saber, é meu Patrono. É membro honorário da Academia Leopoldinense de Letras e Artes. Convidei-o para ser meu Patrono. E ele assim reagiu: "Luiz, estou um tanto confuso. Não estou entendendo. Todo Patrono de Acadêmico é pessoa já falecida. E eu ainda estou vivo". E eu lhe disse que Patrono é padrinho. E padrinho dá presente, mas só enquanto está vivo. E ele aceitou o convite, "ad gaudium et perpetuam vitae memoriam", para minha satisfação e perpétua, indelével e salutar lembrança e testemunho de vida.

Manifestação do acadêmico Luiz de Mello Sobrinho, em homenagem ao patrono de sua cadeira na ALLA.

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