Cadeira nº 25: Jerônima Mesquita

Discurso de posse da acadêmica Amanda de Oliveira Almeida


Digníssimo Presidente Dr Ronald Alvim Barbosa, autoridades presentes, senhoras e senhores acadêmicos, meus queridos familiares e estimados amigos. Agradeço também à Secretaria Municipal de Cultura, na pessoa da Secretária Municipal Jussara de Almeida Thomáz e meus companheiros de trabalho, que compartilham comigo a militância em favor da cultura, o fomento à divulgação e preservação do patrimônio cultural. Estendo ainda meus agradecimentos às funcionárias da Biblioteca Municipal Luiz Eugênio Botelho. Cabe-me expressar minha gratidão pelo presidente da Academia Leopoldinense de Letras e Artes. Agradeço também aos demais membros que indicaram e aprovaram o meu ingresso nessa academia. Quero registrar a minha homenagem e gratidão especial pelas acadêmicas Nilza Cantoni e Glaucia Costa, que tem sido verdadeiras companheiras de trabalho, e atualmente são minhas amigas, que eu muito admiro. 

Como acadêmica, faço aqui a minha homenagem a minha patrona. Eu tive a honra de ocupar a cadeira número 25, patroneada por Jerônima Mesquita, uma ilustre Leopoldinense, que teve sua vida marcada pela busca dos direitos humanos, das minorias e especialmente os direitos das mulheres. 

Fui apresentada à Jerônima muito recentemente pelo pesquisador William Duarte, durante uma conversa informal. Neste momento, percebi que precisava obter mais informações de uma senhora tão distinta. Mais tarde, as acadêmicas Natania Nogueira e Nilza Cantoni dividiram comigo mais informações sobre a biografia daquela que seria minha patrona na Academia. 

Jerônima Mesquita, nasce no dia 30 de abril de 1880 na sede da fazenda Paraíso em Leopoldina. Antes do falecimento do pai em 23/09/1895, sua família alternava residência anualmente entre Rio de Janeiro – então Capital Federal – e a referida fazenda Paraíso, provavelmente em viagens de trem pela então "Companhia Estrada de Ferro Leopoldina" e por charrete. Ou seja: viagem de trem da na Quinta da Boa Vista até Providência, e depois por charretes para a fazenda Paraíso. 

Jerônima se casa na cidade do Rio de Janeiro, com seu primo Manoel Miguel Mesquita, no dia 10/11/1896, 1 ano, 1 mês e 18 dias após o falecimento do seu pai. Em 16/08/1897, nasce Mário Mesquita, seu filho único. Todavia, seu casamento não dá certo e eles então resolvem se separar amigavelmente. Em 11/01/1900, após 3 anos, 2 meses e 1 dia de casados, é decretada a separação consensual deles – separação então denominada “divórcio” – e que no dia 16/08/1900 é confirmada pela Corte de Apelação. Com a separação, Mário Mesquita, então com 2 anos, 4 meses e 26 dias de vida, fica sob a guarda da mãe. 

Depois de algum tempo, Jerônima Mesquita passa a morar na Europa, principalmente na França e Suíça. Em 1914 na França, Jerônima Mesquita traduziu do "Éclaireurs de France" para o idioma português, o código e promessa do Escotismo, assim como diversos textos de Robert Stephenson Smyth Baden Powell (Londres – Inglaterra, 22/02/1857 – Quênia, 08/01/1941), seu criador no ano de 1907. Depois mandou imprimir por conta própria alguns milhares de folhetos com os preciosos ensinamentos e os remeteu para o doutor Ascânio Cerqueira, na cidade de São Paulo, incentivando-o a fundar na Cidade uma associação do Escotismo, tão necessária para a formação de bons cidadãos. 

No início da década de 1920, em Leopoldina, Estado de Minas Gerais – na própria terra natal de Jerônima Mesquita – já havia sido criada também uma associação de escoteiros, muito bem organizada por sinal, como se pode deduzir pela fotografia da corporação mostrada abaixo. Jerônima Mesquita por sua preciosa colaboração à causa do escotismo e pela vida repleta de boas ações foi condecorada com o honroso “Tapir de Prata”, pelos Escoteiros do Brasil. 

Jerônima Mesquita prestou relevantes serviços, como voluntária, na Cruz Vermelha Francesa durante a Primeira Grande Guerra Mundial; passando a trabalhar depois na Cruz Vermelha Suíça. 

Jerônima Mesquita foi fundadora do Movimento Bandeirante do Brasil, no dia 30/05/1919 – ao lado do professor Jônatas Serrano – e que na data de 13/08/1919, houve a realização solene da promessa das onze primeiras “Girl Guides Brasileiras”, traduzida fielmente do Código da "Girl-Guide Association", organização que também fora criada na Inglaterra por Robert Stephenson Smyth Baden Powell, tais como: lealdade a Deus e à Pátria, ajuda ao próximo em todas as ocasiões e obediência ao código bandeirante. 

Jerônima Mesquita, de coração piedoso, percebendo o desamparo em que se encontravam um grande número de gestantes pobres em nosso país e abandonadas à própria sorte, reuniu pessoas influentes e amantes da assistência social, incentivando-as, para juntas criarem a Pró-Matre na cidade do Rio de Janeiro, entidade que até hoje continua prestando serviços em muitas cidades do país. Em 1932, Jerônima Mesquita, que já era sufragista, foi pioneira ao lado da senhora Bertha Maria Júlia Lutz (São Paulo, 02/08/1894 – Rio de Janeiro, 16/09/1976), na vitoriosa luta para que todas as mulheres acima dos 18 anos de idade pudessem também votar. 

Participou no Brasil da associação dos “Pequenos Jornaleiros”, organização que dava assistência a crianças órfãs e carentes. Em 1947, Jerônima Mesquita ao lado de um grupo de mulheres dinâmicas e resolutas, fundou o CNMB – Conselho Nacional da Mulher do Brasil. O Dia da Mulher Brasileira foi instituído pela Lei número 6.791, de 09/06/1980, que foi sancionada pelo presidente João Batista de Oliveira Figueiredo. A data escolhida foi o dia 30 de abril, em homenagem à data do seu nascimento ocorrida no ano de 1880 e coincidentemente no ano do primeiro centenário do seu nascimento. 

Na cidade de Petrópolis existe um Prêmio com o nome de Jerônima Mesquita, uma homenagem da Câmara de Vereadores de Petrópolis para as mulheres petropolitanas que se dedicam a fazer do mundo um lugar melhor. Por sugestão da acadêmica Natania Nogueira nossa cidade poderá homenageá-la também com um prêmio em nossa Câmara Municipal. 

Jerônima foi um exemplo de luta, garra e inovação numa época em que a independência feminina era extremamente condenada. Era uma mulher muito à frente do seu tempo, uma mulher de coragem que desafiava as convenções sociais da época. Foi sobretudo humanitária ao dedicar sua vida às causas sociais, se envolvendo em projetos em prol da caridade. 

É muito importante que o nome de Jerônima seja lembrado principalmente em Leopoldina, sua terra natal. Esse é mais um compromisso que assumo. Acredito que essa seja minha função enquanto acadêmica, fazer com que as pessoas possam reconhecê-la pelo seu importante papel social. Ela foi uma grande Leopoldinense. 

E para terminar cito uma frase de Cora Coralina que expressa bem como foi a vida de minha homenageada: “Eu sou aquela mulher que fez a escalada da montanha da vida, removendo pedras e plantando flores.” (Cora Coralina).

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